Academia
Nos últimos dois anos tenho-me afastado cada vez mais da vida académica. Parte da razão é natural, estou a ficar mais velho e com menos tempo. Mas a desilusão com a academia e a noção da minha absoluta incapacidade de alterar as razões dessa desilusão contribuíram bem mais para o meu alheamento. Custa-me muito ouvir um “estudante” dizer que a academia é a serenata e a queima e não os estudantes que se queixam das propinas e se vão embebedar. Como se todos os estudantes que se queixam das propinas se andassem a embebedar. Como se a serenata fosse a totalidade da vida académica. A praxe que ignora qualquer noção de responsabilidade social. A hipocrisia e o comodismo escondidos sob a tradição e o prestigio. A imutabilidade dos discursos da AAC com os quais nesta altura mais do que noutras sou confrontado. As prioridades completamente baralhadas de pessoas que parecem achar que aquilo que não passa de uma gigantesca bebedeira colectiva é um dos momentos mais importantes da sua vida. Só posso esperar que à medida que envelhecem consigam perspectivar mais realisticamente a sua importância, mas frequentemente o mal já está feito e é demasiado tarde para o corrigir.
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