domingo, dezembro 05, 2004

O Magnífico Reitor

Publicado no último Notas de Campo.

Magnífico- do Lat. Magnificu adj., magnificente; esplêndido; excelente; óptimo; grandioso; pomposo; generoso; s. m., Ornit., espécie de ave-do-paraíso.

O reitor da Universidade de Coimbra faz parte de um grupo selecto de reitores pelo mundo fora, que mais que reitor é “Magnífico Reitor”, apodo atribuído por bula papal. Sem querer sequer questionar a razão pela qual um cargo numa instituição pública de um estado laico tem um título de origem religiosa, não se pode deixar de desconstruir o profundo elitismo e arrogância que a utilização deste título implica. A excelência é uma qualidade que tem de ser merecida de novo todos os dias, não é concedida por um título.
A virtude está na acção, não nas palavras.
Infelizmente não é só no magnífico que está o problema, os 714 anos de história da Universidade de Coimbra e os 117 anos da AAC parecem ter criado uma confusão ente estatuto e excelência em muito boa (ou não tão boa) gente.

Mas o objectivo deste texto era discutir as acções do actual reitor da U.C. Fernando Seabra Santos, eleito em 2003 graças em grande medida ao voto dos estudantes e que demonstrou até agora que as únicas coisas na qual excele é na hipocrisia, na desonestidade, na cobardia e na duplicidade.
Na duplicidade porque tendo sido durante a sua campanha fortemente crítico das diversos projecto-lei em estudo para o ensino superior e solidário com a luta estudantil, nunca até agora agiu de forma a defender aquilo em que diz acreditar, ou os estudantes. Traidor porque ao contrário do que afirmou na cerimónia de Abertura Solene em 15 de Outubro de 2003 não teve pejo em chamar o corpo de intervenção para agredirem o “ pequeno grupo de estudantes” que teve a ousadia de interromper a Abertura Solene “a mais importante cerimónia da Universidade de Coimbra” no passado dia 13 de Outubro, tendo chegado ao ponto de marcar a reunião para um local relativamente isolado e que há hora agendada está praticamente deserto, traidor porque no dia 5 de Novembro de 2003 quando mais de 10 mil estudantes estavam em frente à Assembleia da República a manifestarem-se por um Ensino Superior Público justo e de qualidade, ele estava a ser conivente com a desnecessária fixação da propina mínima através dos golpes baixos que tanto critica nos estudantes.
O reitor é um cobarde porque não defende as convicções que afirma ter. Ao contrário do que afirmou na sua tomada de posse, carne de obedecer é aquilo de que ele é feito. Defender os seus interesses e fazer valer os seus direito é algo que a UC não tem feito, pelo menos em relação ao governo.
O reitor é um hipócrita por que sendo contra a lei de financiamento nas duas vezes a que foi chamado a aplicá-la fê-lo zelosamente, como se fosse o mais cumpridor funcionário público. Teria possibilidade de agir de maneira diferente? Sim, a lei de financiamento está fraseada de maneira a que as propinas sejam estabelecida pelo governo quando as Universidades não o fazem, e quando vem a público dizer que a lei é prejudicial para o ESP não se compreende como é que ele pode compactuar com ela desta maneira.
Quando o reitor é posto perante a recusa de alguns presidentes de conselhos directivos em fixar propinas, afirma que lhes deseja a maior sorte e espera que cumpram os seus objectivos, mas ele não o fará.
Quando este reitor é posto perante a recusa de “um pequeno grupo de estudantes” em pactuar com as suas acções ele afirma por um lado que como são poucos não o preocupam muito, e por outro lado diz que nós devíamos era estar a pressionar o governo e manifestar-nos em frente à Assembleia da República. Sim, o reitor que aproveitou o dia da maior manifestação de estudantes em Portugal, e a ausência dos estudantes Senadores para fazer aprovar as propinas na sua Universidade diz isto aos estudantes que o questionam.