domingo, abril 30, 2006

Contra os canhões

Tenho um filho. Só um. Penalizando-me pela fraca contribuição para o índice de natalidade nacional, o Governo vai obrigar-me a descontar mais para "a Caixa". O eng. Sócrates decidiu que o meu desconto vai ser superior a 11 por cento, porque a minha "taxa mínima de fertilidade" não foi o que, na óptica do Estado, devia. A descontar 11 por cento mantêm-se as pessoas que têm dois filhos, com mais de dois a taxa é reduzida.

José Sócrates arranjou maneira de subir os impostos, mais uma vez, agora com um argumento pseudomoral e populista que toda a gente sabe que o primeiro-ministro adora. A penalização da ausência de fecundidade é um achado do Paleolítico: nem o Estado Novo, onde a procriação era praticamente um dever nacional, foi, que eu saiba, algum dia tão longe - e a doutrina católica era a política oficial.

Está em causa a sustentatibilidade da Segurança Social, eu sei. Mas há uma forma de contornar esse problema, no futuro: Portugal pode abrir as portas a multidões de jovens adultos subalimentados do Terceiro Mundo que aspiram a um lugar no conforto nacional, contribuindo com o seu trabalho e os seus descontos. Não há população a menos no mundo - está é mal distribuída. A menos que José Sócrates defenda que a Europa ou é branca ou não é Europa, sabe que tem um caminho por aí.

Percebe-se José Sócrates: num Governo que tantos amores vai conquistando à direita, tem mais custos políticos o discurso "de portas abertas" do que penalizar os supostos "egoístas" que utilizam anticoncepcionais, os "egoístas" celibatários, os "egoístas" abstinentes, os padres e as freiras, e por aí fora. De caminho, são penalizados os não-egoístas inférteis e os homossexuais que gostariam de adoptar crianças mas são proibidos por lei. Ou os "não-egoístas" com problemas de fertilidade que não têm dinheiro para tratamentos em clínicas privadas, nem tempo para as listas de espera do SNS.

Nada disto tem a ver com políticas de apoio à natalidade: trata-se de um imposto ideológico, um atentado à liberdade individual através da penalização dos não-prolíficos. Quando se discutir o referendo sobre o aborto, a direita que agora anda com Sócrates ao colo vai também invocar esta lei.


Ana Sá Lopes in Diário de Notícias

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quinta-feira, abril 13, 2006

Católicos, não leiam este blog...

... é pecado, tal como ler jornais ou ver televisão.

A boa noticia é que se fizer isso também não terá de ouvir as arengas de Ratzinger, e, acima de tudo, de João Cesár das Neves...