O Prestigio
Havia uma pastora, para quem isto a definia completamente. Era bela e sábia o suficiente para conquistar o respeito e a admiração quer dos seus pares, quer dos seus superiores, mas isto não tinha importância nenhuma para ela (e que outra opinião interessava quanto a isso?). Ela era uma pastora, guardava ovelhas.
No entanto as ovelhas que guardava não eram propriedade sua mas de um aristocrata. Em troca do seu serviço, ela recebia o uso de um confortável casarão, que mantinha escrupulosamente limpo, e uma porção da produção de leite carne e lã que poderia utilizar como entendesse.
Este aristocrata, tal como todos reputados pela sua opulência e esplendor, nunca se permitiria a tocar numa autêntica ovelha viva, ainda que fosse capaz de se sentar à mesa para comer uma perna de borrego na sua elegante túnica de lã. Portanto era a pastora que tratava dos problemas desagradáveis de gestão do rebanho entregando no fim do ano ao seu patrão os resultados do investimento dele através do seu trabalho.
Infelizmente o mais refinado sentido estilo não é protecção contra o infortúnio, como muitos grandes senhores descobriram. Um outro nobre viu-se em dificuldades devido a uma combinação de investimentos insensatos e simples azar, perdendo toda a sua fortuna. Por isso dirigiu-se ao patrão da pastora com a ultima herança que tinha; uma esmeralda magnífica, de grandes dimensões e tonalidade perfeita, para a trocar por metade dos rebanhos do amigo, compra que resolveria os problemas presentes e oferecia a probabilidade de rendimentos futuros.
O patrão da pastora mostrou-se tão ansioso como o desafortunado nobre para fazer a troca , pois a posse de tão precioso objecto traria grande fama e reputação à sua própria casa. Assim ambos os aristocratas começaram a orientar divisão do rebanho a partir de uma plataforma construída para esse efeito (pois nenhum aristocrata no seu juízo perfeito se arriscaria a pisar excrementos de ovelha), enquanto a pastora no curral separava as ovelhas.
A certo momento a discussão intensificou-se e o aristocrata arruinado retirou a esmeralda do bolso e começou a discorrer sobre a sua perfeição e pureza numa tentativa de convencer o amigo a ceder aos seus interesses. Infelizmente a pouca sorte do arruinado nobre voltou a manifestar-se, pois enquanto este gesticulava a pedra escapou-lhe da mão caindo no curral onde um atrevido cordeiro prontamente a devorou.
A pastora imediatamente desculpou-se profusamente pelo acidente (ainda que a culpa não fosse dela), e assegurou a ambos os homens que não havia motivos para interromper o negócio: “Vigiarei este diabrete muito atentamente”, assegurou, “e quando a pedra reaparecer como é normal daqui a dois ou três dias, lavá-la-ei escrupulosamente e entregá-la-ei pessoalmente.”
Ambos os aristocratas ficaram porém horrorizados perante a indignidade a que a pedra seria sujeita e recusaram-se a aceitar esse plano.
“Muito bem” disse então a pastora, “nesse caso matarei o animal imediatamente, e terão a jóia na mão dentro de momentos, embora eu preferisse que este cordeiro viesse a crescer num belo carneiro em de se tornar num assado”.
Mas ambos os nobre concordaram que esta solução também constituiria uma conspurcação inaceitável da pedra, e após uma curta discussão chegaram à conclusão que não havia outra hipótese que não considerá-la como para sempre perdida. Assim o arruinado aristocrata regressou a casa pobre e triste, mas seguro que a dignidade e a nobreza da sua casa em nada haviam sido beliscadas.
A pastora que há muito tempo havia aprendido a inutilidade de tentar incutir bom senso nos orgulhosos aristocratas, guardou as ovelhas para a noite metendo o jovem cordeiro num curral separado, onde o vigiou cuidadosamente. Quando finalmente a pedra percorreu o seu caminho, a pastora apanhou-a com uma pá e lavou-a vigorosamente com sabão e água limpa, levando-a depois a um mercador honesto ao qual só interessava o seu tamanho e peso em vez da sua história recente, pagando uma avultada soma por ela. Parte desse dinheiro a pastora usou nos seus confortos pessoais, outra parte deu aos que dele tinham necessidade e a maior parte guardou para uma necessidade, tendo-se tornado na mais próspera e digna pastora da região.
O cordeiro cresceu para se tornar verdadeiramente um belo carneiro, que reinou por muitos anos sobre os rebanhos mesmo não sabendo que por momentos foi o mais valioso cordeiro do mundo.
Quanto ao aristocrata arruinado, viu-se obrigado a vender o seu palácio para pagar as dívidas e a procurar a caridade de parentes que lhe deram todo o afecto que é devido a um parente caído em desgraça e cheio de autocomiseração. Hoje o seu honrado nome que não seria prejudicado por uma fortuna honestamente conspurcada não é lembrado por ninguém.
Isto não é uma farpa à quinta das celebridades, apesar de eventualmente ser merecedora da farpa.
No entanto as ovelhas que guardava não eram propriedade sua mas de um aristocrata. Em troca do seu serviço, ela recebia o uso de um confortável casarão, que mantinha escrupulosamente limpo, e uma porção da produção de leite carne e lã que poderia utilizar como entendesse.
Este aristocrata, tal como todos reputados pela sua opulência e esplendor, nunca se permitiria a tocar numa autêntica ovelha viva, ainda que fosse capaz de se sentar à mesa para comer uma perna de borrego na sua elegante túnica de lã. Portanto era a pastora que tratava dos problemas desagradáveis de gestão do rebanho entregando no fim do ano ao seu patrão os resultados do investimento dele através do seu trabalho.
Infelizmente o mais refinado sentido estilo não é protecção contra o infortúnio, como muitos grandes senhores descobriram. Um outro nobre viu-se em dificuldades devido a uma combinação de investimentos insensatos e simples azar, perdendo toda a sua fortuna. Por isso dirigiu-se ao patrão da pastora com a ultima herança que tinha; uma esmeralda magnífica, de grandes dimensões e tonalidade perfeita, para a trocar por metade dos rebanhos do amigo, compra que resolveria os problemas presentes e oferecia a probabilidade de rendimentos futuros.
O patrão da pastora mostrou-se tão ansioso como o desafortunado nobre para fazer a troca , pois a posse de tão precioso objecto traria grande fama e reputação à sua própria casa. Assim ambos os aristocratas começaram a orientar divisão do rebanho a partir de uma plataforma construída para esse efeito (pois nenhum aristocrata no seu juízo perfeito se arriscaria a pisar excrementos de ovelha), enquanto a pastora no curral separava as ovelhas.
A certo momento a discussão intensificou-se e o aristocrata arruinado retirou a esmeralda do bolso e começou a discorrer sobre a sua perfeição e pureza numa tentativa de convencer o amigo a ceder aos seus interesses. Infelizmente a pouca sorte do arruinado nobre voltou a manifestar-se, pois enquanto este gesticulava a pedra escapou-lhe da mão caindo no curral onde um atrevido cordeiro prontamente a devorou.
A pastora imediatamente desculpou-se profusamente pelo acidente (ainda que a culpa não fosse dela), e assegurou a ambos os homens que não havia motivos para interromper o negócio: “Vigiarei este diabrete muito atentamente”, assegurou, “e quando a pedra reaparecer como é normal daqui a dois ou três dias, lavá-la-ei escrupulosamente e entregá-la-ei pessoalmente.”
Ambos os aristocratas ficaram porém horrorizados perante a indignidade a que a pedra seria sujeita e recusaram-se a aceitar esse plano.
“Muito bem” disse então a pastora, “nesse caso matarei o animal imediatamente, e terão a jóia na mão dentro de momentos, embora eu preferisse que este cordeiro viesse a crescer num belo carneiro em de se tornar num assado”.
Mas ambos os nobre concordaram que esta solução também constituiria uma conspurcação inaceitável da pedra, e após uma curta discussão chegaram à conclusão que não havia outra hipótese que não considerá-la como para sempre perdida. Assim o arruinado aristocrata regressou a casa pobre e triste, mas seguro que a dignidade e a nobreza da sua casa em nada haviam sido beliscadas.
A pastora que há muito tempo havia aprendido a inutilidade de tentar incutir bom senso nos orgulhosos aristocratas, guardou as ovelhas para a noite metendo o jovem cordeiro num curral separado, onde o vigiou cuidadosamente. Quando finalmente a pedra percorreu o seu caminho, a pastora apanhou-a com uma pá e lavou-a vigorosamente com sabão e água limpa, levando-a depois a um mercador honesto ao qual só interessava o seu tamanho e peso em vez da sua história recente, pagando uma avultada soma por ela. Parte desse dinheiro a pastora usou nos seus confortos pessoais, outra parte deu aos que dele tinham necessidade e a maior parte guardou para uma necessidade, tendo-se tornado na mais próspera e digna pastora da região.
O cordeiro cresceu para se tornar verdadeiramente um belo carneiro, que reinou por muitos anos sobre os rebanhos mesmo não sabendo que por momentos foi o mais valioso cordeiro do mundo.
Quanto ao aristocrata arruinado, viu-se obrigado a vender o seu palácio para pagar as dívidas e a procurar a caridade de parentes que lhe deram todo o afecto que é devido a um parente caído em desgraça e cheio de autocomiseração. Hoje o seu honrado nome que não seria prejudicado por uma fortuna honestamente conspurcada não é lembrado por ninguém.
Isto não é uma farpa à quinta das celebridades, apesar de eventualmente ser merecedora da farpa.
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