sábado, janeiro 08, 2005

Equilibrium

Quarta-feira passada o Canal 1 passou o filme de ficção cientifica Equilibrium


 Posted by Hello

A história passa-se num futuro próximo em que os sentimentos foram ilegalizados e a sua ausência é garantida através do Prozium (o nome é uma justaposição deliberada de Prozac e ópio), uma droga que suprime as emoções. Quando a droga falha uma força de guerreiros de elite, os clérigos, e responsável por capturar e executar os infractores do “crime sensitivo”.

Se o filme não é especialmente original (as sequências de combate são reminescentes do Matrix e o ambiente é reminescente do Bravo Mundo Novo, do Mil novecentos e Oitenta e Quatro, e do Fahrenheit 451 naquilo que parece constituir o pesadelo temido por Fukuyama no Our Post-Human Future), e levantou algumas questões entre mim e os meus colegas. Uma delas tinha a ver com os sorrisos. Um dos meus colegas argumentou que numa sociedade sem emoções não deveria haver sorrisos. Se numa das situções em que isto ocorreu eu concordo que a crítica dele era justa o meu argumento é que o sorriso não tem necessariamente nada a ver com sentimentos. É apenas mais uma forma comunicacional que pode ser tão socialmente construída como o beijo ou o aperto de mão, ou seja programada através da sociabilização. Depois os primatas em geral e os humanos em particular são particularmente bons na dissimulação de comportamentos para manipular os outros i.e. a nossa “face” pública não corresponde necessariamente à nossa “face” privada. Finalmente há o exemplo da sociopatia, indivíduos que são incapazes de qualquer empatia, e são de certa forma incapazes de afectividade, mas que podem passar largamente despercebidos e funcionar de maneira aparentemente normal.

A questão que a mim mesmo me surgiu tem a ver com a natureza humana. A ideia subjacente ao filme parece ser a de que a emoção é um dos componentes mais importantes, senão o mais importante duma eventual essência humana. Uma das questões que Fukuyama põe no Our Post-Human Future, é até que ponto num mundo em que o uso de drogas como o ritalin e o prozac está massificado, pessoas cujos estados naturais estão dessa maneira alterados partilham dessa natureza humana (que incidentalmente ele nunca define). Mas será como é proposto no filme suprimir totalmente a emotividade? O que parece acontecer é antes uma forma de normativização ou de engenharia social, que vai bem mais de encontro a um dos receios de Fukuyama mas que me parece um exercício fútil. Desconfio que a nossa humanidade não terá necessariamente a ver com a emotividade e que esta é impossível de suprimir na sua totalidade. Quanto ao resto espero que haja sempre pessoas que não engulam aquilo que lhes é alimentado acriticamente e que sejam incomodas embora aí tenha de admitir um grande pessimismo.

Numa nota mais leve tenho de dizer que o filme é bastante razoável, com bons efeitos e interpretações apesar do pequeno orçamento, e que Christian Bale mostra um cabedal capaz de fazer repensar muita heterossexualidade masculina...