quinta-feira, junho 23, 2005

Ainda o arrastão

Os meus posts sobre o arrastão foram inevitavelmente dos mais lidos nas ultimas semanas, em geral com comentários não muito abonatórios.
Tirando as reacções do tipo “Mata-te!” que não me conseguirão arrancar mais que algumas gargalhadas e uma ou outra boca, acho que alguns desses comentários merecem alguma atenção porque tendem a seguir uma estrutura que se repete por toda a blogoesfera.

Primeiro tendem a dizer que se está a desculpabilizar os criminos, o que se até é verdade nalguns casos não será em todos, e provávelmente nem sequer na maioria. Eu pelo menos não o fiz e acho que os responsáveis têm de ser capturados e punidos.

Agora recuso-me em alinhar em histerias como quando se chegou a afirmar que o arrastão teria sido feito por dois mil jovens, sendo que neste momento duvida-se que tenham sido mais de 70.

Depois há o próprio perfil desse comentadores. Tendem a afirmar-se como residentes em bairros problemáticos ou na periferia deles, pobres, trabalhadores abnegados, tolerantes e pagadores de impostos, ao mesmo tempo que acusam quem discorda deles de elitismo, alienamento, cinismo, sede de protagonismo, demagogia e má fé enquanto discorrem uma série de disparates racistas.

Quanto a isto apenas tenho a dizer uma coisa:

Sou racista. Se vir um preto ou um branco com mau aspecto na rua é mais provável que eu evite o negro. Há quem lhe chame precaução, eu chamo-lhe a medida do meu racismo. E sinceramente quando vejo as opiniões de algumas pessoas que se dizem “tolerantes” tenho a certeza que com elas nada quero partilhar.

Depois há a também frequente acusação de com a Policia não sermos tão tolerantes logo portanto hipócritas e demagógicos. Bom, quanto a mim apenas por duas vezes critiquei aqui a actuação da policia e não foi acerca do arrastão (critiquei também as declarações de um suposto agente em relação ao arrastão, mas não a policia), só que estando a policia empossada do dever e do poder de exercer uma função repressora sobre o resto da sociedade acredito que esta tem a obrigação de o exercer responsável e legitimamente, estando simultaneamente sujeita á totalidade da lei pela qual vela, devendo portanto ser fiscalizada de modo a impedir o abuso desse poder, tal como é feito por exemplo no Estados Unidos e no Reino Unido. Como consequência directa destes direitos e deveres também defendo que ela deve ser renumerada adequadamente e ter acesso a equipamentos, treino e regalias que lhe permitam exercer a sua função adequadamente, coisa que em Portugal manifestamente não acontece ao contrário novamente dos Estados Unidos e do Reino Unido.

Há claro a questão da nacionalidade dos criminosos. Parece-me irrelevante. Segundo a APAV 98% dos crimes ocorrem entre pessoas que se conhecem e não sei se nos restantes 2% haverá uma grande simetria entre estrangeiros e nacionais. O que me parece é que quando o crime é cometido por um negro lhe é automáticamente atribuido o estatuto de estrangeiro, passa a ser um dos “Outros” aqueles que apenas nos querem destruir. Não fará então mais sentido procurar as causas da criminalidade noutros indicadores como a distribuição da riqueza ou a densidade populacional?

Principalmente sabendo que 98% da criminalidade dificilmente será erradicada por ter uma base inter-relacional?


PS Este post está um pouco mais defensivo do que eu pretendia e claramente preciso de falar mais do crime e de criminosos.

Também recomendo a leitura do editorial do José Manuel Fernandes no Público de hoje.


Outra coisa com piada é o abaixo assinado dos fachos que anda para aí contra a nova lei de emigração. Não sei se eles se aperceberam, mas esta lei é mais restritiva que a enterior em relação à naturalização!